Departamento de Psicologia

História

 

Até a segunda metade da década de 60, as atividades acadêmicas em Psicologia da UFF em estavam concentradas nas então denominadas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), que, com a reforma universitária, realizada em 1968, deram origem, dentre outros, ao Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (ICHF a partir de agora). Este, em consonância com a proposta da reforma, organizou-se, tomando por base os Departamentos de História, de Ciências Sociais e de Filosofia e Psicologia (GFP a partir de agora). Este último contava, então, com cerca de onze professores.

O esforço desses professores, acrescido ao interesse de colegas de outros Departamentos, fez com que o Conselho Universitário da UFF, em 1971, criasse o Curso de Graduação em Psicologia, instituído segundo o sistema de créditos e as diretrizes estabelecidas pelo Ministério de Educação à época. A importância inicial deste curso para a história da Psicologia no Rio de Janeiro se deve ao fato da sua criação ter propiciado à região fluminense o acesso a estudos universitários em um campo do saber que recebia pouca atenção, principalmente no âmbito da universidade pública, bem como por haver possibilitado forte incremento no número de professores do Departamento de Filosofia e Psicologia (GFP), notadamente daqueles com formação em Psicologia.

Em 1977, foi criado o Serviço de Psicologia Aplicada (SPA), com a finalidade de viabilizar a realização do Estágio Curricular, disciplina obrigatória do Curso de Graduação em Psicologia para a formação profissional nesta área, através do oferecimento de assistência psicológica à comunidade. Desde então, o SPA se constitui em importante centro de referência na região metropolitana de Niterói, assim como no interior fluminense, para o atendimento psicoterápico (individual, grupal e familiar) e para o trabalho institucional em creches, escolas, conselhos tutelares, rede municipal de saúde mental, associações, hospitais, sindicatos e empresas. Cabe ressaltar que tal atendimento tem sido, desde sempre, desenvolvido de forma a integrar a atividade de ensino com projetos de pesquisa e extensão.

Se a prática estava contemplando diversas áreas de atuação em Psicologia, o mesmo não se verificava a nível curricular. A preocupação do corpo docente do GFP era a de oferecer aos alunos do Curso de Graduação em Psicologia possibilidades teórico-práticas que os levassem a problematizar as questões psicológicas, a partir de um enfoque que não privilegiasse somente os aspectos biológicos e individuais. Tal inquietação emergia de um confronto com a realidade sócio-política que, naquele momento histórico, passava por significativas transformações.

A partir da década de 80, são criados projetos integrados, voltados para o ensino, a pesquisa e a extensão, desenvolvidos no Departamento e no SPA. Estes projetos centraram seu foco de atenção em contextos e grupos marcados pela exclusão social. Surgem, assim, trabalhos em comunidades, hospitais, colônias psiquiátricas e hospitais gerais da rede pública, que sempre buscaram propiciar uma constante interação entre teoria e prática, ampliando, sobremaneira, o campo de estágio para a formação discente.

Paralelamente ao percurso delineado, surge outro movimento, este de ordem acadêmico-administrativa: o GFP, em 1985, desdobra-se em dois Departamentos: o de Filosofia (GFI a partir de agora) e o de Psicologia (GSI a partir de agora). O Departamento de Psicologia (GSI) veio a possuir, como estrutura interna, oito setores.

Esse movimento propiciou que reflexões críticas sobre o currículo vigente do Curso de Graduação em Psicologia ganhasse corpo e força e tivesse, como desdobramento, no ano de 1986, o início de um processo de discussão sobre a elaboração de um projeto de reforma curricular, que contou com a participação dos corpos docente e discente. O eixo principal do projeto era o de tornar a formação de profissionais mais comprometida com a reflexão acerca da nossa realidade. Privilegiava-se, assim, uma abordagem com ênfase nas dimensões social, política e histórica, evitando uma perspectiva puramente tecnicista. Esta proposta culminou com a implantação, em 1993, do novo currículo do Curso de Graduação em Psicologia.

O início das discussões sobre a mudança do Curso de Graduação em Psicologia levaram o Departamento a ampliar suas atividades extra-curriculares, dando maior visibilidade à produção teórico-prática, através de cursos de extensão e promoção de vários eventos, dentre os quais podemos citar “O Trabalho Psicológico no Hospital Geral”, curso de extensão que deu ensejo à implantação do Serviço de Psicologia no Hospital Universitário Antônio Pedro (1986), aglutinando professores de setores diversos do Departamento de Psicologia. Outro projeto datado desta época (1986), “A Criança na Idade de Creche”, apresentou produção relevante, tanto do ponto vista de trabalhos científicos desenvolvidos, quanto no aspecto do estabelecimento de um campo de intervenção em termos de estágio e pesquisa no âmbito das creches do Município de Niterói, aí incluída a Creche UFF. Podem, também, ser citados os cursos de extensão “História e Memória Comunitária” (1991) e “Meninos de Rua” (1993), que se desdobraram em trabalhos acadêmicos ligados a diversos territórios marcados pela exclusão social.

É importante ressaltar que há uma preocupação do Departamento em dar maior visibilidade à sua produção acadêmica. Neste sentido, a Revista do Departamento de Psicologia da UFF, de periodicidade semestral, foi criada, em 1989, visando principalmente veicular a produção de seus professores e criar um espaço de intercâmbio acadêmico. No ano de 1995, sofre restruturações importantes, tornando-se um periódico quadrimestral indexado ao ISSN, com corpo editorial composto por professores e pesquisadores de diferentes Centros Universitários. Em 2008, a revista do GSI sofre uma modificação e se torna a Fractal: Revista de Psicologia (ISSN: 1984-0292), tendo como objetivo a divulgação e discussão da produção acadêmica e científica. Trata-se de reconhecer a necessidade de coexistência entre as diferentes vertentes de pesquisa no campo da Psicologia, alimentando o debate constante como forma de incentivo à produção científica. Ao mesmo tempo, visa estimular o diálogo com diferentes áreas do conhecimento, cujos temas acusem atravessamentos com os estudos da subjetividade. A Fractal é apoiada pela UFF com recursos do Programa Auxílio Publicação.

Todas estas realizações compuseram um movimento de ampliação do projeto acadêmico do GSI/UFF que, em 1993 criou um Programa de Pós-Graduação Lato Sensu, denominado “Teorias e Práticas Psicológicas em Instituições Públicas”. O curso teve duas áreas de concentração: “Atendimento Ambulatorial” e “O Trabalho Psicológico em Hospital Geral”. Mais tarde, ambas as áreas deram origem a dois cursos diferenciados, embora articulados. A especialização “Teorias e Práticas Psicológicas em Instituições Públicas – Clínica Transdisciplinar” é o resultado de discussões teóricas acerca das práticas clínicas realizadas na rede pública de saúde mental. Sua efetivação atendeu à necessidade de criar estratégias teórico-técnicas voltadas para o trabalho em Instituições Públicas de saúde, de identificar os novos problemas colocados a partir dos atendimentos nestes setores, de fomentar e supervisionar práticas clínicas em Instituições Públicas e de sistematizar um corpo conceitual de base transdisciplinar para a abordagem daquelas estratégias clínicas.

Quanto à especialização “Teoria e Práticas Psicológicas em Instituições Públicas – Trabalho Psicológico em Hospital Geral”, esse teve, em 1996, devido a expansão de suas atividades, um novo desdobramento, passando o curso a ser denominado “Fundamentos Transdisciplinares da Clínica Psicológica em Hospital Geral”, com previsão de encadeamento com um segundo curso, “Psicanálise e Psicossomática”, oferecido de maneira complementar, perfazendo um total de, aproximadamente, 1590h de especialização.

Deve-se destacar que o Departamento de Psicologia da UFF desde a década de 1980 vem desenvolvendo interlocuções transdisciplinares insistindo nas interfaces entre Psicologia, Filosofia, Política e Arte. A abordagem transdisciplinar tem se mostrado fecunda para o enfrentamento dos desafios colocados à Psicologia no contemporâneo. Neste sentido, a ampliação da perspectiva disciplinar no campo da Psicologia pode ir além das abordagens multidisciplinar e interdisciplinar, visando a troca mais intensa entre os saberes e as práticas das áreas afins.

A partir de 1994, cria-se o Curso de Pós-Graduação Lato Sensu “Comunidade e Cidadania”, como um desdobramento de intervenções e cursos de extensão que, desde 1981, vinham sendo coordenados por alguns professores do Departamento em comunidades que viviam sob forte processo de desfiliação social. Seu objetivo foi o de analisar, dentro da perspectiva psicossociológica, a articulação entre cidadania e comunidade, considerando-se as dimensões psico-sócio-políticas e históricas.

Criado em 1995, o curso de “Especialização em Psicanálise” constituiu-se como decorrência necessária da cooperação e produção conjunta dos professores de orientação psicanalítica que participavam da Oficina de Psicanálise. O curso articulou-se em duas áreas de concentração. A primeira área de concentração – “A Psicanálise e a Clínica” – visava capacitar os profissionais para a clínica de orientação psicanalítica. Transmitindo os operadores teórico-práticos da Psicanálise numa perspectiva crítica e enfatizando o ensino de Freud e Lacan, pretendeu considerar ainda as complexas relações entre a psicanálise e sua prática exercida num contexto institucional público (SPA/UFF). A segunda área de concentração – “Mal Estar na Cultura” – teve como objetivo habilitar a pesquisa de problemas da cultura a partir da perspectiva psicanalítica. É essa leitura do “sintoma social” que permitiu avaliar os limites e possibilidades de uma interpretação psicanalítica da cultura.

Apesar das diferentes orientações teórico-práticas presentes nestes cursos, o que remete a um pluralismo bastante fecundo, há convergência para uma problemática comum, cujas referências são a clínica, a saúde pública e a exclusão social. Com a criação dos Cursos de Especialização, o Serviço de Psicologia Aplicada passou, também, a viabilizar o ensino, a pesquisa e a extensão em nível de Pós-Graduação. Além disso, vários eventos universitários foram promovidos, com vistas a criar uma integração constante entre a Pós-Graduação e a Graduação.

Pode-se citar algumas realizações:I Encontro sobre Psicoterapia em Instituições Públicas: Teoria, Prática, Limites e Possibilidades (Set/1988); Pesquisa “Análise da Demanda de Atendimento Psicológico em Instituições Públicas – Alternativas Terapêuticas”, incluindo supervisão de psicoterapia no Centro de Saúde Santa Rosa, SUS- Niterói (1988/1990); II Encontro sobre Psicoterapia em Instituições Públicas: Perplexidades do Real (Set/1990)”, onde ocorreu o ‘workshop’: “Questões Esquizoanalíticas”; Curso para profissionais da Rede Pública de Saúde Mental : “O Ambulatório em Saúde Mental: Alternativas Terapêuticas” (Co-realizado pela Coordenação de Saúde Mental do SUS-Niterói com a participação de convidados de outras universidades – 1990); Curso de Extensão teórico-prático “Clínica Transdisciplinar” (1992); Curso de Extensão “Desejo e Produção” (Jan/1992); III Encontro sobre Psicoterapia em Instituições Públicas: Cidadania e Clínica (Out/1992), onde ocorreu o ‘workshop’: “Clínica Transdisciplinar”; Ciclo de palestras sobre Psicanálise e Instituição; Psicossociologia Teórica e Prática; Encontro “Subjetividade: Questões Contemporânes I, II e III” (out/95, out/96 e out/97), promovido pelo curso de especialização Teorias e Práticas Psicológicas em Instituições Públicas – Clínica Transdisciplinar, oferecendo cursos, ‘workshops’ e palestras; Seminário “Subjetividade e Instituições Públicas I, II e III” (abril/95, maio/96 e maio/97), onde profissionais ligados à rede de saúde apresentaram seus trabalhos para uma discussão com os professores ligados ao curso de especialização Teorias e Práticas Psicológicas em Instituições Públicas – Clínica Transdisciplinar.

Paralelamente ao movimento de revisão curricular, de criação de projetos de pesquisa e de cursos de extensão e de Pós-Graduação, o GSI inicia uma outra discussão relativa à capacitação de seus professores. Em 1987, é definida uma política de investimento na formação do seu corpo docente, ampliando sua massa crítica através do incentivo a programas de doutoramento e pós-doutoramento. Como resultado dessa política, atualmente (2014) mais de 93,3% dos professores do Departamento são doutores. É nítido, nos últimos anos, o aumento da produção docente, tanto em artigos nacionais e internacionais, como de livros individuais ou coletivos.

O Departamento de Psicologia, face às realizações já efetuadas, considerou oportuna e obrigatória a ampliação de suas atividades em direção à Pós-Graduação Stricto Sensu. Para tanto, constituiu em 1995 a Comissão de Pós-Graduação incumbida da tarefa de elaboração do Projeto de Mestrado. Em 1999 teve início a primeira turma do Mestrado em Psicologia com área de concentração nos Estudos da Subjetividade, fazendo convergir duas linhas de pesquisa que se distinguem e não se separam: a) Subjetividade e Clínica; 2) Subjetividade, Política e Exclusão Social. Em 2008, cria-se o Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFF com a criação do Doutorado em Psicologia que ampliou o campo de pesquisa e formação na área de concentração Estudos da Subjetividade.

Atualmente o Departamento de Psicologia está organizado em quatro Setores: Setor Teórico-Experimental, Setor Social e Institucional, Setor de Clínica e Setor de Trabalho.

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